Na quarta noite dos novenário a São Gonçalo, a Santa Eucaristia foi celebrada pelo nosso querido Padre filho de Batalha Pe. Leonardo de Sales, que teve como tema da noite: A Revelação "Sou eu, que falo contigo" (Jo 4,26).
Os responsáveis da noite foram o setorial Nossa Senhora de Nazaré, pastoral da criança, batismo e catequese. Confira abaixo toda a homilia de Padre Leonardo de Sales:
Neste
retiro anual, o festejo de São Gonçalo, a paróquia nos convida a refletir sobre
a iniciação cristã, com o tema “Igreja, casa de iniciação à vida Cristã”, e com
o lema “São Gonçalo, sacerdote e missionário de vida cristã” e propõe seis
passos: 1º. O Encontro, 2º. O diálogo, 3º. Conhecer Jesus Cristo, 4º. A
Revelação, 5º. Anúncio, 6º. O Testemunho. Todo este caminho auxiliado pelo
documento 100 da CNBB, inspirado pelo Evangelho de Jo, Cap. 4, 5-42.
Nesta
noite compete-me refletir sobre o 4º passo, a Revelação:
Deus
de revela ao homem, e este com a claridade da inteligência acolhe o mistério,
mesmo que parcialmente compreendido, dado que Deus, não se esgota, mas se
revela, e a revelação é uma experiência apocalíptica, pois isto mesmo significa
Apocalipse, “revelação”, mesmo sem querer dissecar o mistério é licito ao
homem, buscar uma compreensão do Mistério, e Deus em Jesus se revela, se
mostra, se apresenta, diz de si aos homens. E o texto escolhido para a temática
deste festejo apresenta esta dinâmica, procurar a relação com o mistério, no
crescimento e amadurecimento dos dados da Revelação, dos sacramentos.
“Sou
eu, que falo contigo” (Jo 4,26). Ali, diante daquela mulher, estava pela
primeira vez alguém que ouviu a sua história, repleta de “muitos maridos”. Sem
condená-la, mas com ouvidos e olhar de misericórdia. Para aquela samaritana
chegara a “hora”. Até então era excluída; agora Ele a faz saber que pode ser
incluída entre os “adoradores que o Pai procura” (Jo 4,23), que encontrá-la é
anseio do Pai. É admirável a sua reação: confessa-se disposta a aceitar o
Messias, quando ele chegar (Jo 4,25). (n. 28)
Embora
ainda não tivesse reconhecido quem era Jesus, compreendera que as suas palavras
anunciavam dias de graça; eram os tempos messiânicos. Estavam, pois, preparados
o ambiente, o clima, as condições para que Jesus se identificasse e se
revelasse. (n. 28)
“Sou eu, que estou falando contigo” Chega-se
aqui ao ápice daquele encontro. Ela, até então, falara do Messias. Agora fala
diretamente com Ele, em pessoa. O que antes era esperança mal definida, agora é
presença, é pessoa encontrada. Até o cântaro para levar água, antes um
instrumento indispensável para saciar a sede da água do poço, agora perde
relevância... Agora a mulher descobrira que sua fonte de vida não vem do poço,
mas de Jesus, que se aproximara e se deixara encontrar. (n. 29)
“Sou
eu” – Eu sou oo ouvir a expressão “Sou eu” certamente afloraram à mente da
Samaritana as antigas experiências de libertação. Outrora Deus se apresentara
como libertador (Ex 3,14: “Eu sou...”). Essa expressão poderá lhe ressoar ainda
muitas vezes. Se continuar o diálogo com Jesus, vai ouvi-lo dizer: “Eu sou o
pão vivo” (6,35); “Eu sou o bom pastor” (10,11); “Eu sou a ressurreição e a
vida” (Jo 11,25); “Eu sou o caminho, a verdade, a vida” (14,6); “Eu sou a
videira” (15,1). Ao leitor, as possibilidades são muito maiores que à
samaritana. (n. 30)
Um
projeto de caminho que visa a promoção da Iniciação Cristã, “como processo de
formação integral da Fé e como que um sacramento em três etapas: Batismo,
Confirmação e Eucaristia que implique uma atitude de viver como discípulo
missionário em fidelidade ao amor de Deus”.
Este
evangelho nos apresenta um itinerário da Igreja como casa de Iniciação à vida
cristã.Neste processo o Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos (RICA) será o
caminho referencial. “servirá de GPS para a nossa ação pastoral
paroquial. Um convite para passar do modelo escolar ao catecumenal: não apenas
conhecimentos cerebrais, mas encontro pessoal com Jesus Cristo, vivido em
dinâmica vocacional segundo a qual Deus chama e o ser humano responde”.
“O
Dom da água que dá a vida” refletido na noite de ontem será o ponto de partida
para a esta reflexão que está destinada a mudar o rosto da Igreja. “A água, só
por si, não dá a vida, mas a água, transformada por Cristo, salva e dá a vida.
Com um autor do séc. II, podemos, com efeito, afirmar: «felizes daqueles que,
pondo toda a sua esperança na cruz, desceram à água do Batismo. Com efeito, a
fé mergulha no dom da água que dá a vida”. Como fez São Gonçalo, no inicio de
sua caminhada cristã, no dia do seu Batismo.
Ninguém
nasce cristão, torna-se cristão pelo Batismo, a fonte de todas as vocações. O
percurso iniciático, o catecumenato, de âmbito catequético-litúrgico e moral
destina-se não apenas a fazer o cristão, mas a própria Igreja. A insistência do
caráter sacramental da Iniciação quer sublinhar a iniciativa divina gratuita de
Deus. A evangelização exige o tempo da maturação na fé no tempo a que se chama
catecumenato.
A
“pastoral atual na nossa Diocese é ainda muito marcada pelo modelo de
cristandade, apresentando muita dificuldade, e às vezes, muita resistência para
assumir uma reviravolta missionária. Esta conversão pessoal, pastoral e
missionária é claramente proposta pelo Papa Francisco: “sonho com uma opção
missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os
horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal
proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à auto-preservação”
(Evangelii Gaudium 27)”.
Temos
uma multidão ontologicamente iniciada na fé, ou seja, batizados, centenas e
centenas fizeram a 1ª Eucaristia e receberam o sacramento do Crisma, porém esta
pertença não se verifica no nível existencial, o festejo é uma fotografia clara
deste diagnóstico, uma multidão de pessoas que nos procuram esporadicamente,
cuja vida cristã não se verifica na vida da comunidade eclesial, são cristãos
de festas e de ocasiões.
Abandonemos
também nós nossos cântaros da indiferença, de uma religião indiferente e
discriminadora, saímos de uma experiência de meros consumidores dos serviços
religiosos, de um devocionismo vazio e sem compromisso, para uma Igreja de
batizados e iniciados conscientes de suas responsabilidades.
Evoco
aqui, com emoção, as palavras do Arcebispo Montini, futuro Papa Paulo VI, ao
anunciar, em 1959, na Catedral de Milão, a Missão para a sua Diocese: “Porque
se afastou de nós o nosso irmão?” Perguntava o arcebispo de Milão e adiantava
de imediato a resposta: “Porque não foi suficientemente amado. Porque não
velamos por ele, não o instruímos bastante, não o iniciamos nas alegrias da fé.
Perdoai-nos se não vos rodeamos bastante de cuidados, se não fomos
suficientemente mestres espirituais, suficientemente bons médicos das almas, se
fomos incapazes de vos falar de Deus como devíamos tê-lo feito. Escutai-nos
porque queremos juntar às nossas palavras a alegria do anúncio do Evangelho”.
PADRE LEONARDO DE SALES
Nenhum comentário:
Postar um comentário