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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Saudades da Bataia!

Amanhece na Batalha!

Os 365 dias novamente foram vencidos, chega ao fim a nossa espera, chegou o tão esperado dia 22 de dezembro, dia do levante do mastro!

Pelo ar o som do sino anuncia que a nossa festa já vai começar. Nas ruas pessoas de todos os tipos têm um olhar renovado, uns se perguntam pelas esquinas e calçadas: fulano vem pros festejos desse ano?

No céu fogos rasgam as nuvens e também os nossos corações, a alegria dos fogos anuncia é festa de São Gonçalo!

Fieis aos montes se encaminham para o patamar para o já tradicional café comunitário, iniciativa da inesquecível Dona do Sr. Chico Tabatinga; já no dia anterior se ouvia: amanhã eu vou tomar café com São Gonçalo.


A atmosfera de nossa terra é outra nestes dias dedicados a São Gonçalo, a gente parece mais feliz e de fato somos. Bate em nosso peito a saudade. Os de longe se transportam em pensamentos para junto dos seus. Como escreveu Coelho Neto, romancista brasileiro: “A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração”. Ouvimos onde e em que situação estivermos as badaladas do sino da velha matriz, a oração da Ave Maria “puxada” por Dona Anaíde, que agora debilitada pela idade continua suas rezas, agora em silêncio, o silêncio de dona Anaíde é a outra metade da palavra, ou ainda o lado noturno da palavra; e consigo ver o andor  do Glorioso enfeitado com toda pompa e  beleza,  por aquela que é considerada a matriarca da fé e  guardião primeira da imagem  barroca e bicentenária de São Gonçalo da Batalha,  a querida dona Iolete.

De onde estou consigo visualizar o mestre Quincas comandando a sua e nossa banda municipal, desfilando belas notas em seus instrumentos tão brilhantes como a alma dos seus músicos, prefaciados pela melodia de belos dobrados, nos ouvidos ressoa: “Glorioso São Gonçalo, rogai por nós!”. Melodia clássica, nascida da parceria entre o maior de nossa música, o mestre Fabiano, no seu clamor de devoto ao santo patrono e o saudoso Pe. Sabino Dantas.
Sem falar na visão que tenho do patamar salpicado de gente, com suas velas e corações acessos olhando para o mastro que se ergue majestoso que é erguido por braços de todas as cores e força de tanta gente, tão diferentes e tão iguais, a erguer o mastro verde da cor da esperança de nossa gente tendo no cimo a sagrada bandeira que imponente no mastro tripudia, anunciando a quem passar pelo adro da matriz que a Batalha está em festa.

Que saudades dos toques do sino, do nosso imortal “Badão”, que do céu, pula no badalo do velho sino da matriz, e diz ao seu sucessor Assuero: “bate direito este sino!” Pois sino se bate primeiro no coração, o timbre dos acordes e a melodia são captados pelo bronze que o coração do crente envia. E o badalo já não se segura e explode em alegria!”
E por falar em saudade, onde estará o Sr. Sena, a esta hora senão com as duas mãos  pressas ao madeiro da cruz do Cristo a presidir a procissão do mastro em direção à matriz, do céu diz ao seu sucessor Sr. Gonçalo Rosa: “Você precisa ter mais elegância para carregar esta cruz”.

Que saudades dos leilões na antiga barraca de palha, na chamada quadra do leilão, sinto o cheiro dos assados do afamado leilão do Apostolado, dos bolos que só nossa gente sabe fazer, como a “dona duca” feito com a goma dos Araçás, dá água na boca só em lembrar dos biscoitos de nata de dona Lete, sem falar nos doces de todos os tipos, de maneira especial os de mangaba de dona Maria do Santo,de saudosa memória, talvez nunca mais teremos doces tão bem feito! E quando tinha garapa de cana do Velho Barro, que saudade! E as rapaduras da puba?

De novo renasce em nossa alma a memória da procissão dos vaqueiros, símbolo da resistência, heróis do sertão, que no sol escaldante, com a música de seus aboios saúdam o nosso padroeiro, vêm agradecer a chuva e o bom inverno. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” Escreveu Euclides da Cunha, no livro “Os Sertões”. Dia 31 de dezembro é o dia em que o homem rude e sereno acostumado desde muito novo com a morte se achegar ao santo protetor para lhe agradecer. Ele é um resistente num lugar onde quase só existe deserto e onde a água é uma miragem. O vaqueiro sobrevive porque é uma raça forte. Assim como o cacto mais resistente, ele foi feito para o sertão. Tem o pêlo, o corpo e a psicologia próprios para suportar o suplício das intempéries, o vaqueiro vêm implorar a benção do santo, como a quem não tem mais a quem recorrer, haja visto que os políticos lhes dão as costas.

É tempo de matar a saudade das lindas procissões presididas pela fé e muita esperança de nosso povo, o cortejo serpenteia pelas ruas de nossa Batalha, cujas casas se enfeitam de curiosos que nas calçadas impávidos saúdam a imagem do Glorioso que triunfante avança cidade adentro, no seu belo andor enfeitado por dona Iolete, abençoando o seu povo, neste único dia em que São Gonçalo passeia pelas ruas de sua Paróquia, com seu cajado de pastor e guia de seu povo, espantando os males e com seus olhos fixos em cada um de nós a nos abençoar.

Por onde passa a procissão seja a do mastro ou a do dia 1º de dezembro os curiosos que se amontoam nas esquinas sofrem de saudades no coração pelos seus que já se foram que os olhos marejam, descendo lágrimas sobre o rosto e lavando a alma do devoto.

Quem não se lembra do Sr. Machado Melo, impávido a acompanhar da calçada de sua casa a procissão passar acompanhado de sua família, como que a ensinar a catequese de nossas tradições aos seus? Ou da mangueira centenária do Chico Mira, cujos frutos nunca vi melhores, ali na esquina da doutora Rubenita balançando os seus galhos como que saudando os passantes que segue o cortejo do santo português? Ou mesmo das Irmãs Filhas de Sant’Ana, a colorir a multidão com o branco de seus hábitos, ou do seu Agenor, Dutra e companhia que todos os anos disputam um lugar para carregar com tamanha devoção, fé e piedade o andor de nosso padroeiro?
Ou mesmo de dona Elza Machado, qual uma rainha sentada no seu trono, com seu séquito acomodado na calçada de dona Bola, acompanhando cada momento da chegada da imagem e da bênção sacerdotal que do alto do patamar é distribuída?

Quem não se lembra do professor Cristóvão, com a sua barba longa, num misto de cinza com branco semelhante a um judeu, em pleno uso de sua sabedoria, seduzido pelo cheiro de vela e sacristia de seus tempos de seminarista, ouvindo pacientemente as pregações dos padres, sempre atento às construções gramaticais, querendo flagrar um erro de português dos oradores sacros?
Quem não se lembra de seu Raimundo, carinhosamente paco-paco, com sua corte descendo o Riacho da Ponte para participarem de mais um ato de fé?
Ou mesmo da professora Leonina com sua elegância impecável, debruçada na janela de sua mãe dona Diná, registrando cada um dos passantes rumo à matriz para a novena ou procissão?
Ou mesmo da santidade escancarada no rosto dos membros do Apostolado da Oração que com suas fitas vermelhas no pescoço se enfileiram na procissão do Glorioso com o ar de milícia medieval a proteger os lugares santos, que como brava gente piedosa todos os anos se alista no exército da fé?
Quem não tem saudades dos bons sacerdotes que o Senhor nos tem enviado neste quase 200 anos da matriz de São Gonçalo, cada um com um dom diferente enriquecendo a nossa fé de maior expressão e amor a Deus?
Ou mesmo do saudoso Badão que se dividia entre a torre da matriz e a mesa do leilão, quem não tem saudade dos seus gritos sedutores com seus lances, tendo nas mãos as jóias, e gritando: dou-lhes uma, dou-lhes duas, dou-lhes três”, que era seguido pelo olhar furtivo e vivaz de Dona Maricota que anotava em seu caderno de folhas amareladas  o nome dos devedores?

Quem não se lembra dos “vivos a São Gonçalo”, nascidos do entusiasmo festivo do Pe. Pinto, nosso eterno pequeno notável a encher o quadro da matriz com o seu vozeirão de Pavarotti?
Chega de saudades vamos viver o nosso tempo enquanto nos resta a festa de São Gonçalo, ou como gosta de dizer nossa gente mais antiga “São Gonçalo da Bataia”.
Os santos emprestam seus nomes aos dias do calendário, às localidades e a nós mesmos. Quantos são os Gonçalos em nossa Batalha, e as Gonçalas? A presença deste santo deixou marcas indeléveis na vida de nossa cidade.

As cerimônias festivas e religiosas fazem parte da cultura e tradições populares. Reafirmam laços sociais, reúnem e resgatam lembranças e emoções. Expressadas pela dança, canto, culinária, devoções, pois o que vale mesmo é a união, a nostalgia, a festa, o reencontro com os amigos, a celebração da fé, e o compromisso evangélico, que deve nascer de tudo isto.

São nessas manifestações simples que a exuberância do batalhense se mostra por inteira, e é também por isso que o nosso povo é conhecido pelas festas e animações tão características.
São Gonçalo é um marco na vida e na evangelização desse povo de Batalha. Nós cantamos em nosso hino: “Ao bom povo de Batalha, vossas bênçãos derramai, como um santo poderoso a Deus por nós rogai!”. Essa é também a razão pela qual São Gonçalo é proclamado por nós como “O Glorioso”.

Eu queria está na “Batalha de Cima” esperando São Gonçalo voltar da capital onde fora visitar seus filhos, para vê-lo chegar majestoso, mas não será possível, porém, a saudade que bateu no meu peito se fez poesia que a chamei de “São Gonçalo”:

Quando chega dezembro noss’alma à Batalha se inclina,
E o nosso coração não sente outra coisa,
Só saudade de tua Igreja que está no alto da colina

No dia da tua procissão a tarde é serena e linda
Nuvens douradas vão cobrindo os ares
Resoa um canto de harmonia infinda
Na alma dos batalhenses que sobem os seus patamares!”

Surge em nossa alma um conforto santo
No esplendor bendito da vitória
São Gonçalo desce sobre nós teu manto
E nós cantamos neste mundo agora:
São Gonçalo bastião de nossa história!

Gonçalo o teu nome graça espalha
És alma de luz que a candura encerra!
Reluz de amor e esperança a nossa Batalha
Hoje e sempre lendária e ametista Terra!


Nesta festa de 2010 volta à cena a figura deste santo tão querido deste povo. Ele representa ao lado de tantos santos e santas de Deus, a salvação eterna em obra, nesta humanidade sofrida e pecadora.
Alegremo-nos dezembro chegou e para nós batalhenses dezembro nos lembra a festa de São Gonçalo! Aproveitemos para rever os familiares, amigos, renovemos a nossa experiência de fé, recarreguemos a bateria espiritual para mais um ano, em que novamente começará a contagem dos dias à espera da próxima festa! Enquanto ela não chega vivamos cada instante intensamente de nossas novenas, barracas, leilões e procissões!

Boa festa a todos!
Pe. Leonardo de Sales

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