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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Raízes bíblicas da devoção ao Sagrado Coração de Jesus

Todo o mês de junho é, tradicionalmente, dedicado a esta comemoração (Este ano, por causa, da Festa da Páscoa, a solenidade do Sagrado Coração de Jesus, ocorrerá, no dia 1º de julho, ou seja, a segunda sexta-feira, após a festa de Corpus Christi, conforme determina o calendário litúrgico da Igreja). Portanto, é tempo oportuno para voltarmos a refletir sobre o infinito amor de Deus, que brota do Coração aberto do Cristo Senhor e o culto para com Ele.

Em nossa Paróquia de São Gonçalo, a existência do Apostolado da Oração é centenária, e merece por si só uma particular reflexão. No presente artigo pretendemos apresentar as raízes dessa devoção na Sagrada Escritura, e ainda a origem dessa devoção na História da Igreja.

É interessante iniciarmos com uma visão antropológica do que seja o coração. Fala-se muito de coração, freqüentemente com um ranço de pieguice sentimental. O coração, de fato, no seu simbolismo mais denso, distingue a nobreza de sentimentos de uma pessoa e sua grandeza de atitudes.


A mentalidade bíblica, segundo a tradição judaica, não trata do coração como mero órgão físico. Esta é, aliás, a sua acepção menos importante. A Bíblia considera o coração (leb-lebab) como centro de nossas faculdades espirituais, sede dos pensamentos e da reflexão, da vontade e das nossas decisões, aquilo que, normalmente, consideramos inteligência.

O cérebro, na época da Antiga Aliança, não era tido como centro destas funções. Nossa linguagem figurada herdou esta forma de expressão: sente-se com o coração. Mas a sabedoria também se aninha no íntimo. Diz-se que a luz da verdade brilha nos corações dos homens sábios. Todas estas expressões, que muitas vezes empregamos, têm origem na Sagrada Escritura sob o termo “coração” (καρδιά – kardía, em grego e cor, em latim).

A palavra coração deriva do grego e do latim cor. Ambas têm origem na palavra kurd do sânscrito, que significa saltar. (Nager, Frank. The Mythology of the Heart. Basel: 1993. Ed. Roche)

A mais antiga representação do coração, de que se tem conhecimento, data de 1200 a.C. Trata-se de um vaso da cultura Olmeca do México, provavelmente usado nos sacrifícios humanos desse povo. O vaso tem a forma grosseira do coração com os três vasos originando-se em sua base. (Vinken, Pierre. The shape of the heart. Amsterdam: 2000. Ed. Elsevier).

A palavra coração aparece oitocentas e cinqüenta vezes no Primeiro Testamento e cento e cinqüenta e nove no Segundo Testamento, noventa e uma das quais nos escritos de São Paulo. Muitas vezes a palavra coração tanto pode referir-se ao coração de Deus como ao coração do homem.

Algumas vezes refere-se ao órgão vital do ser humano, no entanto, a maior parte das vezes aparece com o sentido simbólico, isto é, aquilo que há de mais íntimo. Com este sentido simbólico refere-se ao coração de Deus e ao coração do homem.

Quando se refere a Deus é quase sempre para revelar o seu amor e a sua misericórdia para o seu povo. (Jr 32,40-41)

Quando se refere ao homem, é para nos dizer aquilo que há no seu íntimo, o centro unificador do seu ser, de onde procedem as decisões e, logo, os seus atos exteriores. Na Sagrada Escritura, o homem é o coração.

É no coração que a Bíblia coloca a vida intelectual, a capacidade de conhecimento. O coração é assim inteligente, sábio. Reza-se com o coração. (Dt 29,3; Is 6,10; Mt 13,15; Mc 7,21).

Também a palavra coração na Bíblia centra em si as dimensões morais e éticas, daí que se diga em algumas passagens que o homem tem um coração humilde, manso, puro, reto, misericordioso. (Ex 10,20; Pr 6,14; Jr 17,9; Mt 5,5; Rm 1,24).

Na Escritura Sagrada a vida afetiva do homem é descrita com a palavra coração; um coração que sofre, que se angustia, que se alegra, que sente dor, etc. (Gn 6,6; Is 7,4;  Lc 24,32; Rm, 9,2).

O Primeiro Mandamento diz-nos que o amor bíblico é atividade do coração; “E amamás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração” (Mc 12,30); a conversão também é atividade do coração: “Mudarei o vosso coração de pedra em coração de carne.” (Ez, 36,26).

Nos evangelhos, a palavra coração ganha um sentido mais profundo, fala-nos do seu íntimo, é o centro do seu amor.

É o próprio Senhor que nos diz: “aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração.” (Mt,11 29)

Ao longo de diversas passagens percebemos a sua intimidade, a sua piedade, a sua compaixão; vemos como se alegra, como se admira, como se aflige.

Acima de tudo descobrimos que o seu coração ama apaixonadamente: “Ele, que tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim.” (Jo 13,1)

Em conclusão, essa devoção estava presente em germe na Sagrada Escritura.

Breve história da devoção ao Coração de Jesus

A história da devoção ao Coração de Jesus é bastante rica e extraordinária. Ninguém estranha que se diga que o primeiro devoto do Coração de Jesus foi o apóstolo e evangelista São João. É ele que descreve a lança no peito do Senhor (Jo 19, 31-37), do qual saíram água e sangue. A água símbolo do Batismo e o sangue, símbolo da Eucaristia.

É São João que nos descreve o lado do Senhor aberto depois da ressurreição, quando aparece a Tomé e o convida a colocar a sua mão no seu peito trespassado (Jo 20,26-29). È ainda João, o único dos doze que reclinou a sua cabeça junto ao coração do Cristo, e pode ouvir os batimentos do coração que governa o mundo, durante a última ceia, é, portanto, o primeiro devoto do Coração trespassado.

Todavia, durante séculos, vários autores sagrados, como Clemente de Alexandria, Leão Magno, João Crisóstomo, entre outros, fizeram referência à lança que perfurou o lado do Senhor e teceram comentários preciosos sobre o lado aberto.

São Bernardo de Claraval, considerado o último dos Santos Padres, porém, igual aos primeiros, em santidade e doutrina, escreve sobre esse lado aberto, afirma o santo doutor: “Amim quando me falta alguma coisa vou buscá-la no Coração de Jesus”, encontrando neste coração a fonte de todos os dons e de todas as graças. Mas foi mais tarde, a partir de São Boaventura, que a literatura cristã acerca do Coração de Jesus e a relação entre o coração físico de Jesus e o mistério do seu amor se associaram ainda com mais clareza.

Aparecem também dois grandes autores que falam do Coração de Jesus: São Francisco de Sales (1567-1622) e São João Eudes (1601-1680), que deram uma nova dimensão à devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O primeiro inculca na Ordem da Visitação, por ele fundada em 1610, uma particular devoção ao Coração do Redentor e escreve às sua religiosa como “Filhas do Coração de Jesus”. O segundo, São João Eudes, além de propagar esta devoção, compôs um ofício (liturgia das horas) e uma Missa em honra do Coração de Jesus, que foram celebradas pela primeira vez em localidades da França, a 20 de setembro de 1672.

Surgem posteriormente duas figuras muito importantes nesta história da devoção ao Coração de Jesus: Santa Margarida Maria Alacoque, da Ordem da Visitação (1647-1690) e o jesuíta São Cláudio de  La Colombière ( 1641-1681), confessor de Santa Margarida Maria, e também escritor e pregador acerca dessa devoção. Foi através dele que o encargo de propagar a devoção ao Coração de Jesus chegou à Companhia de Jesus, perdurando até os nossos dias.

Diversas congregações religiosas, tanto masculinas como femininas, estão fundadas nesta espiritualidade; a presença do Apostolado da Oração de Batalha tem colaborado com grandes feitos, desde o auxilio na manutenção da matriz de São Gonçalo, passando pelo zelo e o cuidado com as alfaias, os famosos leilões, com suas iguarias que só estas devotas senhoras sabem fazer, o amor ao Coração de Jesus, a Nossa Senhora, aos sacerdotes e a Igreja do Senhor fazem delas uma Associação de Fiéis insubstituível em nossa Paróquia. Obrigado dona Iolete Sampaio, e demais membros do Apostolado da Oração pela frutuosa colaboração de vocês com a missão de evangelizar a partir da espiritualidade do Coração de Jesus.

O Coração de Jesus é, portanto, a definição da sua pessoa. Sinteticamente definimos os seus gestos, os seus ensinamentos, que brotam do Seu Coração. O coração mostra como que a síntese, a interioridades de nossos gestos. A devoção ao Coração de Jesus tem suas raízes na Sagrada Escritura, não é um sentimentalismo barato, nem tão pouco é o Apostolado da oração uma associação de beatas, como muitas pensam.

Que durante este mês de junho, possamos crescer no amor a este coração, que nós como João, o evangelista, possamos sentir em nossa vida os batimentos do Coração de Jesus que governam o mundo. O Coração de Jesus não é só modelo do que devemos imitar, mas também paradigma de toda a vida cristã. Unamos as nossas vozes aos membros do Apostolado para cantar: “Coração Santo, Tu reinarás, Tu nosso encanto sempre serás”.

Sagrado Coração de Jesus, nós temos confiança em vós!

Pe. Leonardo de Sales

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