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terça-feira, 5 de julho de 2011

Um ano sem o Jonas, um ano do Jonas no céu!

Faltando 15 minutos para o último dia da semana, sábado (às 23.45 de sexta-feira) estando fechadas as portas do apartamento 3001, do Hospital Antônio Prudente, em Fortaleza, Jesus entrou. Aproximou-se do nosso amigo Jonas e disse: “Vem comigo, bendito de meu Pai!”.

Lá fora, reinava a escuridão da noite. Era o cenário perfeito para alguém que veio para ser “luz”: Para todos nós era também tempo novo um renascer. As luzes e o clarão que o dia houvera perdido a pouco descia sobre nós e a solidão e a tristeza nos envolvia. No céu, já era alvorada. Chegava uma nova luz. Um filho querido voltava para casa. Os anjos comemoravam a volta de mais um anjo para casa.

Sábado, dia da memória de Nossa Senhora, da qual Jonas era tão devoto! A notícia de sua morte toma conta dos e-mails dos amigos, dos sites de nossa terra, do boca-a-boca, e chega ao coração de cada um que em vida o amou. Uma chuva fria invadiu os nossos corações, se misturando às lágrimas dos amigos que o amavam.

O sentimento, por um lado, era de orfandade, de vazio, de solidão, de saudade. Por outro, reinava também um sentimento de profunda gratidão e alegria pela obra deixada pelo amigo Jonas em 32 anos de uma presença que a história perpetuará na memória e na vida de quem como eu, tive o privilégio de crescer junto com ele. A sua amizade, seu trato e bondade para com todos é uma unanimidade.

Estamos diante do mistério. Escapa ao poder humano decidir sobre o sentido último da vida. Ela volta àquele que detém a chave de todos os segredos, a resposta a todas as interrogações e a ciência de todos os caminhos. Diante da morte, o espírito experimenta que está remetido a um maior que impede o triunfo do absurdo. Deve ter um sentido último definitivo e assegurado para aqueles que morrem crendo na ressurreição.

Cada morte deixa uma interrogação em aberto à espera da manifestação da luz que espanca todas as trevas do mistério da vida. A morte não deverá ser a última palavra, nem o desespero a última condição humana!

Domingo de sol e de frio. De cantos e de lamentos. De louvor e de emoção. Após uma celebração eucarística, memorial da paixão de Cristo por nós, celebração da paixão do Jonas, presidida emocionalmente pelo nosso pequeno-grande Pe. Pinto, seu provedor e amigo; seu corpo desceu à sepultura, longe de muitos dos seus amigos, mas próximo de seus parentes e, também de tantos que se enfileiravam subindo a ladeira rumo ao cemitério São Gonçalo, onde se encontra o seu corpo.

Falar do Jonas é difícil, mas ao mesmo tempo é tão fácil.
Jonas tinha uma estatura de um gigante, sempre foi o maior da turma, nasceu depois de muito tempo em que o casal dona Francisca e seu João não tiveram filhos, foi a “rapa do tacho”, como se diz em nossa terra, porém, era um gigante com o coração de um menino.

Recordo-me de você, seu narigão, suas grandes orelhas que lhe valeram o apelido de “orelha de abano”, que ao ouvir a nós meninos lhe “zoar” ficava zangado e usava de seu tamanho para nos amedrontar, mas logo passava, e nos convidava a subir no majestoso e frondoso pé de siriguela, para chupá-las; árvore que até hoje se conserva no quintal de seus pais, ah que saudades Jonas!

Saudade dos banhos no riacho grande, na barroca de louça, das brincadeiras com o Neto do Dió, sempre o mais esperto de nossa turma, com o Denis, o João Filho, o Júlio, o Gachá que você sempre dava caçoletas, por ser o menor e mais zangado da nossa rua. Que saudades!

Saudades dos tempos em que nos embrenhávamos nas matas dos interiores, na Toyota da paróquia, nas missas em que acompanhávamos o Pe. Pinto, saudades de ver você todo compenetrado dirigindo o novo carro da paróquia o “Lada”, do Pe. Pinto. Saudades de suas brigas com o João Ana, quando você carregava cada uma das pedras “cabeça de jacaré”, para a construção da gruta de Nossa Senhora de Lourdes; e das caras de ciúmes da inesquecível Toinha Soares, que não queria que você mexesse na secretária. Sem esquecer o Arnaldo, a dona Mazé, cozinheira da casa paroquial, e o Joaquim Trindade sempre a defendê-lo como seu padrinho de crisma.

Meus olhos vertem lágrimas ao me lembrar dos invernos, quando as coxias se alagavam e nós fazíamos um campeonato de barquinho, para ver qual o barco chegaria primeiro lá na ponte da doutora Rubenita, em que você caprichava na decoração de seu barquinho, com os papéis trazidos de Fortaleza por sua irmã freira, a Ir. Lourdes. Hoje, qual um barco que descia rumo à ponte você navega no coração de Deus.

Lembro com saudades das vezes que íamos com seu Luizinho, o seu avô, para a Nova Vida, buscar manga e cana, que você ia à frente com o Carlos Henrique, da Mazé, seu sobrinho, sempre pra pegar as mangas mais vistosas, agora a sua Nova Vida é está junto de Deus, com a dona Iaiá, sua avó.

Por fim, Jonas qual o Profeta de quem você herdou o nome, agora você faz a experiência de mergulhar na barriga de um peixe, e neste imenso aquário que é o mundo de Deus, re-elabora a dimensão de sua vida, agora sem as dores do câncer, você pode experimentar a recompensa pelas gostosas gargalhadas que você dava com os amigos, as brincadeiras, bem próprias do “menino-homem”, apelido que lhe demos na rua, nos idos tempos de menino.

Há pessoas que morrem de câncer e morrem curadas, você é uma delas, que fez da doença uma participação na Paixão de Cristo, cujas dores vão se completando mundo a fora, até o dia da libertação final, agora sem choro nem dores em fim libertos!

Agora é o silêncio da semente que aguarda o renascer, a vida nova que irá desabrochar; o silêncio da saudade fecunda. Ressoa no ar o último sussurrar de suas palavras gravadas por mim por ocasião de um de nossos últimos encontros, durante um dos festejos de São Gonçalo, um grito quase inaudível: “Até a próxima”.

“E aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola”. Assim, reza a liturgia no prefácio da missa dos mortos. Uma verdade!

A ressurreição responde a essas interrogações inarredáveis do coração. A vida passa pela morte, mas não é tragada por ela. Triunfa mais perfeita. O homem não nasce para morrer. Morre para ressuscitar.

Jonas obrigado:
Pela continuação de sua presença entre nós, por meio de seus dois filhinhos: O Luis Gustavo e a Heloísa, nascidos do seu amor, numa liturgia de corpos com a Márcia, sua esposa!

Obrigado pela sua vida, tão breve, mais tão longa em lições que nasceram de seus dias entre nós!

Obrigado pelo seu testemunho de fé, durante o seu calvário, nas idas e vindas do hospital!

Obrigado pelas pessoas que você cativou no seu leito, a amizade dos médicos e enfermeiros (as), a coragem e a audácia amorosa de seus familiares que fizeram o possível para salvar a sua vida!

Obrigado com um gosto na boca das mangas da Nova Vida, pelos seus 32 anos entre nós!

Enquanto seu corpo, cansado e desfigurado, repousa na escuridão da terra, Jonas comparece luminoso diante do Cristo que lhe pergunta: “Tu me amas?” E ele, feliz e sorrindo, responde: “Tu sabes tudo; tu sabes que te amo... e eu sei que DEUS É BOM!” Jesus o abraça forte e diz: “Entra para alegria do teu Senhor, tu que passaste a vida fazendo o bem, agindo sempre em meu nome”.

Um ano se passou, mais parece que foi ontem, em que acordamos sem ter você!
Porém, “A morte não é verdade para quem viveu bem a vida!”.

Faço minhas as palavras infinitamente mais competentes do Milton Nascimento e do Fernando Brant, na canção da América: “Pois seja o que vier, venha o que vier qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar, qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar”. Pois, a saudade não significa dizer que estamos distantes um do outro, mas que um dia estivemos juntos.Sabemos que "para estar juntos não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro do peito"

Jonas, amigo querido, desculpe, mas acho que também no céu, Deus nos permitirá brincar: pois Deus é amor, mas também Deus é humor! Por isso, me permita terminar esta mensagem dizendo assim: “Orelha de abano” até a eternidade! Aleluia! Amém!

Com saudades,

Seu amigo

Pe. Leonardo de Sales.

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