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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Requiém para Miltinho

Miltinho, eu acabei de chegar de uma viagem de férias ao Piauí, queria muita presidir a missa do 30º dia de tua partida, mas nem tudo é como queremos, tua irmã Terezinha me procurou falando desse desejo dela, mas fico te devendo esta.

Neste dias nossa Batalha estava mergulhada até o pescoço no mistério do festejo de São Gonçalo, que tu tanto amavas! Mas creio que lá do céu tu acompanhou tudo bem de perto. A festa foi muito linda, consegui levar uma réplica da imagem de São Gonçalo, realizando o sonho de muita gente: ter em casa uma imagem do santo que nos influência na vida.

“Minha escola estava tão bonita”, canta o Benito de Paula, na canção retalho de cetim, eu parafraseio dizendo: O andor do glorioso estava tão bonito. Foi linda nossa festa!

Pena que teus ouvidos não estão mais aqui para ouvir o bimbalhar das batidas do sino da velha matriz, que fora recuperado, que tu tanto lutaste para ver concretizado.

Tua colaboração seria fundamental na celebração dos 160 anos da criação da Paróquia de São Gonçalo e dos 200 anos da construção da Matriz!

Consegui ver tua mãe, a dona Dila, a abracei profundamente e apertei muito forte sobre o meu coração de padre, como aquele gesto de Jesus que deitou São João em seu peito, fazendo com que o evangelista ouvisse os batimentos do coração que governa o mundo!Não que o meu governe nada, mas quis com este gesto afagá-la e compreender como sofre uma mãe que tem um filho falecido!

Conversei sobre ti como tua irmã Terezinha e percebi nela muita serenidade, confesso que ela tinha muito amor por ti, falou de tua inteligência e da facilidade em escrever um texto, que a caneta em tuas mãos fluía como a água que corre nas coxias no mês de abril rumo ao Riacho Grande!

Vi de longe teu irmão, num bar, parecia um pouco perdido e tão rodeado de pessoas, mas parecia tão sozinho, entendi ali uma busca de sentido, mas cada um encontra o sentido onde se lhe revela o mistério da vida.

Na hora da morte, quando se fecha o pano desse autêntico teatro que é a vida, com as suas grandezas e misérias, no balanço que fazemos de quem parte, é habitual salientarmos o que de melhor cada um praticou em vida, abdicando quantas vezes de trazer à luz a face mais oculta da sua personalidade.

Mas o Miltinho, que nos deixara órfãos da sua presença e convívio há trinta dias, é justo dizer que trilhou, de coração aberto, os caminhos da vida, semeando amizades como quem planta flores à sua passagem. E nesse percurso de 37 anos, em que pôs em evidência a honestidade, a competência, a seriedade e esta capacidade quase mística de forjar amizades e entendimentos, foi sempre capaz, com a sutileza própria dos superiormente eleitos, de exprimir com frontalidade as suas posições e de levar paulatinamente o interlocutor à aceitação dos seus argumentos.

Conversei bastante com muitos amigos teus sobre a tua morte, ou seja, teu nascimento para a vida, da Jaqueline Melo ouvi em Teresina, muito rapidamente lá na ladeira do Uruguai enquanto eu esperava um ônibus: “padre por vezes acho que o Miltinho esta viajando”, eu não lhe disse, mas a digo agora: a morte de fato é uma viagem para os braços do Pai, viagem sem volta!Fechamos os olhos para ver melhor. Do Neto do Luizinho ouvi que demorou a acreditar que tu tinhas morrido que só acreditou quando viu o teu corpo no caixão, até o último momento tinha esperança de ser mentira! Caro Neto, de fato a morte não é verdade para quem viveu bem a vida! Já escreveu um poeta argentino.

Um dos que mais me comoveu foi o Antonio Geraldo, do Catombo, ao descrever a notícia, disse-me que estava numa missa, a notícia fora dada pelo padre Evandro, ele disse ter perdido o chão, e o chão perdemos todos nós, e tu ganhou uma sepultura cavada no seio da mãe terra.

Pensei comigo: O Miltinho regressou ao pó de Batalha onde o seu cordão umbilical foi enterrado ao nascer, agora o recebeu de volta para o descanso eterno.

Pois bem, pude ouvi diversos testemunhos sobre a tua vida, deixastes uma legião de amigos. Aqui a vida continua, passada a festa de São Gonçalo, cada um voltou para a sua vida, muitos de fora outros de dentro, mas morando fora, partiram para ganhar a vida.

Tive notícias que um posto de saúde em Timon, no Maranhão, vai levar o teu nome, fiquei feliz em ler esta notícia, demonstra o quanto o teu nome era venerado, esperamos que em nossa Terra, se faça algo parecido para perpetuar a tua memória.

Estive no cemitério em visita a diversos túmulos de pessoas que se foram em 2011, como faço a cada ano que vou a Batalha, sempre gosto de fazer este gesto. Visitei a nossa amiga Corrinha Lopes, e o teu túmulo, verteu lágrimas de meus olhos ao acender uma vela para ti, e pensava comigo: logo o Miltinho que gostava tanto de falar, agora é só o silêncio absoluto que aguarda a manifestação da vida, é a semente na escuridão da terra à espera da manifestação da luz eterna, prometida por Cristo aos seus crentes!

Mas, no dia da apoteose, durante a procissão de São Gonçalo, ao passar em frente à tua residência, confesso que não consegui olhar para frente da casa, portanto, não sei ti dizer se dona Matilde e dona Conceição estavam na porta, se eu olhasse para ali, não teria mais condições de continuar o cortejo, senti o meu coração apertando-se ao palmilhar o trecho que tá de fronte à casa de dona Deloquinha. Fiquei triste de não ter visto a Ziroca, queria tanto repetir com ela o abraço dado na dona Dila, também seu Milton eu não vi, mas fiquei edificado com o comentário que a Terezinha fez ao me dizer que ao saber da tua partida ele estava recuperando-se e continuou com a mesma firmeza com que dirigia a antiga ambulância do Hospital Messias Filho.

De todos ouvi sobre o teu amor por Batalha, de nosso prefeito foi a tônica mais ouvida, o teu amor por Batalha e a preocupação em difundir o seu nome.

Filho de Batalha apelou constantemente às suas raízes e, assente nelas, orientou toda sua vida no sentido de tudo fazer, nos planos políticos, cultural, desportivo e associativo, para engrandecer o chão que o viu nascer, como fica tão bem espelhado nos livros com que nos quis brindar.
Hoje, passado um mês, sentimos que nos deixou um homem bom, chorado com razão por todos quantos com ele lidaram que nunca se irão esquecer-se do respeito, da humildade, do sentido de solidariedade e compreensão que sempre estiveram na base da sua inteligência.

Que nome dar ao vazio que agora em nós corre irresistível como um rio? Como superar a dor que nos penetra assim na alma e nos remete para semelhante desespero? Como suprir a falta que tu nos irá fazer na luta visando gerir os diálogos e os silêncios do interior de sua alma com o Mundo?

Com o teu desaparecimento, Batalha perdeu um dos seus melhores filhos, o humanista, o apaixonado por esta Terra de São Gonçalo e o homem de relações, cujo exemplo deveremos ser capazes de assumir e transmitir às gerações vindouras.

Miltinho é verdade que a morte nos rouba os entes queridos. Sofremos com tua perda. Tua partida nos empobreceu, deixou-nos um vazio, um oco no estômago, semelhante àquele que experimentamos após os festejos, uma angustia incontida.

Ficou a dor, a lembrança, a saudade, em difícil convivência com a certeza da ressurreição.
O Senhor ressuscitado está no meio de nós, e um dia nos encontraremos com o Pai e com o nosso Miltinho!

Miltinho, Batalha continuará a ser o teu eterno caso de amor!

Até a eternidade!

Pe. Leonardo de Sales

Um comentário:

  1. A prestação de contas do festejo de São Gonçalo não vai ser mesmo divulgado?

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